segunda-feira, 26 de abril de 2010

ACTUALIDADE DA CRÍTICA VIEIRISTA


ACTUALIDADE DA CRÍTICA VIEIRISTA

Neste excerto do Sermão de St. António, Vieira apresenta-nos o peixe roncador, símbolo de um dos defeitos humanos: a arrogância. Na verdade, é impressionante que um peixe tão pequeno, ronque tanto. De facto, também os homens se vangloriam. Na opinião do Padre António Vieira, dois são os motivos para esta soberba: o saber e o poder. São-nos dados dois exemplos: Caifás, que roncava de saber e Pilatos, que roncava de poder. Mas, quem é o Caifás de hoje? É difícil dizer o seu nome, porque, de um modo geral, toda a sociedade seguiu o modelo dos peixes roncadores. Nós, os homens, convencemo-nos que o saber só se pode alcançar por uma via: a ciência. Todos fomos atraídos pelo seu roncar, pois parecia que o seu conhecimento era seguro e que dava resultados mais imediatos. A ciência transformou a realidade em números. O que não pode ser traduzido em números está automaticamente excluído. Perdeu-se a dimensão mais rica do homem: a alma. À medida que confiámos na ciência e na nossas supostas capacidades de animais racionais, tornamo-nos mais irracionais que nunca. Parece que o “homo sapiens” (aquele que sabe), se tornou no “homo nesciens” (aquele que não sabe). Bestializámo-nos, passando a ver o mundo como o vêm os animais, resumindo-o a tudo o que é palpável e visível. A felicidade passou a ser o consumo. O amor é visto de uma forma utilitarista. A espiritualidade é igual à dos tempos pré-históricos, tendo sido reduzida aos movimentos de Júpiter e Saturno, que influenciam o horóscopo. O pensamento crítico continua reservado a uma elite. A informação é tanta que não há tempo para a saborear, só para a engolir. Absolutizamos o exterior, o corpo, que são efémeros e relativizamos o interior e os sentimentos, que se perpetuam. Julgamos ter saber, mas só temos opinião e quantas vezes infundamentada. Fora melhor termo-nos calado! Ai que cegueira esta, que nos perturba! Se ao menos houvesse fel que a curasse! Se tivéssemos mais dois olhos veríamos a luz e não só as profundezas!
Como, disse anteriormente, também o homem ronca de poder. Hoje em dia, quem são os exacerbadores de poder? Quem é o Pilatos, que lava as mãos do mal que fez? Como é possível, tanta insensibilidade dos que exploram para com os que são explorados? Que sentido tem isto, se, como disse o Pe. António Vieira, somos todos da mesma espécie e do mesmo elemento? Não deveríamos nós todos ter uma parcela igual de poder? Mas, sem dúvida alguma, que se todos tivéssemos poder, não haveria nem ordem, nem poder. Em suma, todos fariam o que bem entenderiam, não havendo ninguém que impedisse que uns comessem os outros. Por esta razão teve o homem a sensatez de delegar o poder a uma autoridade, com intuito de esta preservar o que é de todos, no bem e na justiça. O poder emana de todos e destina-se a todos. Não só é servo aquele que se subordina ao poderoso, mas também o que manda e decide deve fazê-lo em favor de todos Todavia, empresários e políticos aos quais foi concedido o poder, tornam-se exacerbadores e ficam com ele. Comportam-se como os peixes maiores que sendo poucos engolem os mais pequenos. Ou seja, o que era destinado a todos ficou num só. Como é possível, que sendo eles tão pequenos, ronquem tanto? Porque se julgam eles maiores que a baleia e outros peixes, que com humildade, se calam e aceitam a sua condição?! Algumas multi-nacionais e políticos são o Pilatos de hoje, que crucificam constantemente a dignidade humana e os peixes mais pequenos, e lavando as mãos se voltam a sentar no seu posto. Se ninguém lhes deu o poder para condenar uns e salvar outros, por que determinam eles quem fica empregado ou desempregado? Porque determinam eles que uma criança asiática tem menos valor que uma criança europeia? E vós políticos? Por que é que não há um torpedo que vos faça tremer a consciência? Por que é que não há um pegador que vos agarre a moralidade? Por que não usais o poder para o bem e para a justiça? Foi com esta intenção que o povo vos delegou o poder! Porventura, já esquecestes que sois servos? É muito triste ver vos com dinheiro para vós próprios, quando há famílias desempregadas, que não recebem um salário em casa! Calem-se! Calem-se e oiçam, pois só uma coisa tenho para vos dizer: “Os arrogantes e soberbos tomam-se com Deus; e quem se toma com Deus, sempre fica debaixo.”

Tiago Nuno Loureiro 11ºH nº27

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Trovoada no Armazém

o poder da noite
escondido no interior das escuras nuvens
risca o céu eléctrico com iluminadas assinaturas
veio beijar a terra num breve instante